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Amilton Cruz. FKT cravada. E um rastro no Caminho dos Bandeirantes.

  • Foto do escritor: conrado reis
    conrado reis
  • 4 de nov.
  • 2 min de leitura

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Tudo começou no início de dezembro de 2024, quando navegando pelo Wikiloc me deparei com um FKT (‘Fastest Known Time’ - tempo mais rápido conhecido) publicado pelo amigo André Lima: Caminho dos Bandeirantes. O nome por si só já carrega história e é inspirado nas rotas dos desbravadores do período colonial. Mas o que realmente me chamou a atenção foi a proximidade com São Paulo e a promessa de um percurso desafiador, passando por morros, trilhas fechadas e cenários de pura natureza. O trajeto de 100km e 4.200m de ganho altimétrico conecta as cidades de Santana de Parnaíba (40km de São Paulo), Pirapora do Bom Jesus e Cajamar, passando por morros e trilhas de mata fechada.



Decidi que seria meu presente de aniversário: no dia 18/12, um dia após completar mais um ano de vida, eu faria essa travessia. Convidei o amigo João Silveira, criador de desafios lendários como ‘Deus Me Livre’ e ‘Corpo Seco’, e partimos às 5h da manhã. Mas como toda primeira tentativa, aprendemos da forma mais difícil: calor intenso, falta de pontos de apoio, escassez de água e um rastro impreciso. O resultado? No km 88, após 22 horas e 12 minutos, tivemos que parar. A frustração foi grande, mas a vontade de concluir foi ainda maior. Meses depois, voltei mais preparado. Dessa vez, com o parceiro Marcos Caussi, companheiro de muitas aventuras insanas. Estudamos cada detalhe do percurso, definimos estratégias de alimentação e hidratação, mapeamos comércios e até deixei drop bags escondidos com suprimentos no dia anterior. Às 3h da manhã do dia 27/09, partimos da Igreja Matriz, no centro histórico de Santana de Parnaíba, com uma certeza: dessa vez, iríamos até o fim.



E que jornada! O caminho nos presenteou com mudanças constantes: áreas queimadas, árvores caídas, trilhas bloqueadas e rios sem as antigas passagens. Cada obstáculo nos conectava ainda mais com a essência do trail. Mas não foram só as dificuldades naturais – bolhas nos pés me obrigaram a parar algumas vezes para cuidar delas. Mesmo assim, seguimos firmes.



Foram quase 23 horas de imersão total. Além da natureza, vivemos momentos únicos com pessoas simples e generosas: a senhora que nos deixou descartar lixo e aceitou doces para a criança; o avô que nos ofereceu água gelada e sorriu ao ver o neto feliz com um torrone, bananinha e Coca Cola; e o casal do bar que nos serviu macarrão e suco com carinho de avó. Essa é a verdadeira conexão: com a trilha e com as pessoas.



Após 22h49, cruzamos a linha imaginária de chegada com os 100km do Caminho dos Bandeirantes superados. Exaustos, mas com o coração transbordando de alegria. Mais do que um FKT, foi uma experiência transformadora.



E não para por aí. Já penso no próximo desafio: o Trem de Doido, perto de Belo Horizonte, e a Interparques, a maior trilha urbana de São Paulo, com 182 km. Quero explorar ainda mais as belezas próximas à cidade e, quem sabe, criar novos FKTs. Porque o universo trail é isso: possibilidades infinitas, muito além das provas. Minha dica? Prepare-se, respeite a natureza e viva cada passo.



Amilton Cruz


(arquiteto de TI, corredor de trilha e de provas de aventura e amante das montanhas)


@amiltoncs


*Link para o registro do Caminho dos Bandeirantes no site da FKT: https://fastestknowntime.com/route/caminho-dos-bandeirantes-0

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